Tuesday, November 29, 2005

Amor e Telemóveis

Recentemente, uma amiga minha recebeu no seu telemóvel a seguinte mensagem: “Já tenho saudades de amar… amar é bonito. Se souberes o que é o amor, sabes o que quero dizer.” Não conhecendo aquele número de telefone a minha amiga ficou intrigada mas ao mesmo tempo agradavelmente surpreendida por aquela mensagem. Porque se falava de amor.
No dia seguinte o desconhecido pediu-lhe desculpa pela mensagem enviada erradamente. Ela respondeu-lhe e teve inicio ali uma conversa que durou alguns dias e manteve pendurados da troca de mensagens, não só ela e o misterioso do outro lado da linha, mas todas as pessoas que tiveram conhecimento da história.

Numa outra situação, passada há mais tempo, uma outra mensagem veio pôr fim a um namoro que já andava tremido. Ele começou por lhe enviar a ela uma anedota mais picante, ela pensou que ele lhe estava a dar uma indirecta menos abonatória do seu papel no namoro, ele ficou ofendido por ela pensar isso dele e… terminaram.

A minha mãe dizia-me outro dia que actualmente, com as novas tecnologias, as pessoas estão a perder a capacidade de conversar, de comunicarem umas com as outras e de trocarem ideias. Limitam-se a despejar cartoons e piadas para extensas mailing lists, sem conteúdo nem nexo. Isso acontece em muitos casos e já me tem sucedido passar dias sem trocar realmente uma palavra com a pessoa do lado de lá da linha telefónica, mas, a maioria das vezes, o e-mail veio facilitar o contacto com amigos com os quais, devido às nossas vidas tão preenchidas, eu estaria provavelmente meses sem falar.
Se, na primeira história, uma mensagem veio possilitar a criação um novo relacionamento, na segunda o telemóvel apenas veio apressar o termino de uma relação que já não estava bem. Em qualquer das situações houve contacto e comunicação entre pessoas. E quanto a mim, tanto o e-mail como o telemóvel vieram tornar possivel que eu conhecesse pessoas com quem, de outra forma, nunca teria hipótese de conversar e que aprofundasse amizades que, devido à distância e aos afazeres, provavelmente nunca passariam de meros conhecimentos.

Claro que nem tudo são rosas. Há alturas em que a minha caixa de correio rebenta de cartoons e ficheiros de video, mas há outras em que, num inesperado ping-pong de mensagens, o meu dia se anima com uma gargalhada ou ganha uma súbita dimensão através de uma emoção partilhada em palavras num ecrã de computador.

A.C. , 12 de Março de 2000

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