Saturday, December 23, 2006

Prioridades e SMS


Aqui há uns tempos, eu e uma amiga discutíamos qual a importância que uma de nós tinha para um conhecido pelo qual estava interessada. Depois de debatermos os sinais habituais: “ele telefona, ele não telefona”, “ele conta o que se passa com ele, confia em mim ou não…”, “ele está sempre ocupado, nunca tem tempo...” etc., chegámos à conclusão que até relativamente fácil percebermos se somos importantes para os outros ou não: basta ver em que lugar estamos na sua lista de prioridades.

Se alguém está constantemente ocupado, nunca telefona, está sempre a desculpar-se que nunca tem tempo, que o trabalho/casa/filhos, etc., o ocupam, então é porque não somos importantes o suficiente para que essa pessoa nos coloque no topo da sua lista de prioridades. Todos temos as mesmas 24 horas em cada dia e acabamos, todos, por fazer primeiro aquilo que no momento mais valorizamos. Ainda que queiramos com toda sinceridade chegar a todo o lado e estar com toda a gente, isso não é possível e por isso, acabamos por ter de fazer escolhas. E são essas escolhas que indicam as nossas prioridades.

Isto é válido para maridos, namorados, amigos, colegas e familiares. Ainda que mais tarde cheguemos à conclusão que fizemos a escolha errada e que teria sido melhor ter saído com a pessoa X do que ficar a aturar o chato do chefe, a realidade é que no momento em questão decidimos ficar mais 3 horas no local de trabalho. Quer essa decisão tenha sido tomada por ambição (estamos à espreita de uma promoção), por brio profissional (se eu não ficar o trabalho não aparece feito), por medo (se não der o litro sou despedido), ou por qualquer outro motivo, o facto é que a tomamos porque, para nós, naquele momento aquela decisão era importante e a alternativa era-o menos.

Claro que para a pessoa que é preterida em favor de outros afazeres pode ser aborrecido perceber que se calhar os outros não nos colocam no mesmo degrau da escala que lhes atribuímos. Quando de repente recebemos um SMS de alguém, que sempre julgámos próximo do nosso coração, a informar-nos de um facto tão relevante como o futuro nascimento de uma criança, um casamento ou um baptizado, percebemos que afinal não nos é atribuido por essa pessoa o tempo suficiente para, pelo menos, recebermos um telefonema a dar-nos notícia de viva voz.

Pode ser triste, mas de certo modo é também libertador. Porque é nesse momento que percebemos que é altura de deixarmos de estar parados à espera do outro e em vez disso seguirmos o nosso caminho. Eles fizeram a sua escolha e é tempo de fazermos a nossa. Podemos então saborear as boas lembranças que temos com essa pessoa, esquecer as más e manter a janela aberta para as novas que surgirão. A nossa vida apenas depende de nós e cada dia está ai para ser vivido o melhor que pudermos, sem mágoas nem ressentimentos.

A.C., 12 de Dezembro de 2006.