Friday, July 21, 2006

Responsabilização

A coisa mais difícil e assustadora que uma pessoa pode fazer na vida é assumir a responsabilidade pelos seus actos e pelos resultados que deles derivam. E por muitas vezes ser tão difícil assumir as consequências das nossas escolhas muitas vezes procuramos a saída fácil e atribuímos as causas do que nos acontece a factos exteriores, tais como as acções dos outros, a sorte/azar, o destino ou mesmo a acção divina.

Frequentemente, quando algo corre mal na nossa vida, a primeira reacção é procurar um alvo para atirarmos a culpas. Pode ser aquela pessoa que nos irritou na fila do supermercado, e que com isso nos “fez” comer um pacote inteiro de bolachas; o colega invejoso do local de trabalho que nos “faz” sermos mesquinhas em retaliação; a vida chata que levamos que nos “faz” não darmos ao nosso namorado/a a atenção que merece; o azar de termos apanhado trânsito que nos “fez” não termos chegado a tempo à entrevista; ou a maldição que nos persegue e que nos “faz” não encontremos a pessoa especial que procuramos. Os exemplos não têm fim.

No entanto, e esta é a minha opinião pessoal, qualquer que seja a situação em que nos encontremos na vida, ela depende também e sempre de nós mesmos, das escolhas que fazemos. Não importa quão mal-educada seja a mulher na fila do supermercado, eu tenho a escolha de não devorar um pacote inteiro de batatas fritas, assim como tenho a escolha final de não ofender quem trabalha comigo só porque estou mal disposto/a ou não consegui a promoção queria. Se não tenho namorado/a ou não tenho o/a que desejava, então a culpa é minha porque não vou à procura de quem quero.

É verdade que somos afectados pelas circunstâncias e pelas acções de outras pessoas, mas é também verdade que somos nós que reagimos a essas circunstâncias e às pessoas. Nós não somos, ou pelo menos não deveríamos ser, espectadores passivos da nossa vida. O problema é que nem sempre sabemos que caminho seguir e, mesmo quando sabemos o que devemos fazer, há ainda a hipótese de errarmos na nossa decisão. E é isso que assusta.

É sempre mais fácil e aliviador até, atirar o peso da responsabilidade para os ombros de outrem ou para o saco sem fundo da sorte ou do acaso. Só que cada vez que o fazemos, de cada vez que evitamos olhar de frente para os acontecimentos, estamos a perder um pouco mais o controlo da nossa vida. Quando assumimos que algo aconteceu por motivos exteriores a nós estamos a deixar que seja o exterior a conduzir a nossa vida. Não podemos controlar os sentimentos e reacções alheias nem os golpes do acaso, mas podemos decidir como reagimos a eles. É esse o nosso poder, decidir como vivemos a vida que nos acontece e não deixar que nos aconteça a vida que vivemos.

Assim, da próxima vez que se quiser queixar do árbitro que marcou um penalty errado no minuto 37 de um jogo importante, lembre-se que o jogo tem 90m e que, embora aquele penalty possa ter influência no resultado final, os golos que a nossa equipa não marcou durante o resto do jogo também o têm. O passado já aconteceu e já não pode ser mudado, mas podemos sempre agir no presente e fazer a diferença no futuro, porque pode ser justamente quando nos deixamos ficar parados a lamentar a nossa sorte, que a oportunidade pode passar por nós e, se estivermos ainda agarrados àquele momento de azar ou de raiva, o mais provável é não a vermos.

A.C., Odivelas, 20 de Julho de 2006.