Há dias em que acordo furiosa contigo. Zangada, a ferver! Como
foi possível deixares-me assim, sem um aviso? Como uma camisola velha que já
não serve? Dizias que era o trabalho, o trabalho que tudo impedia, que te
afastava de todos. Como é possível? Que escravidão é essa em que vives? É toda
a gente assim no teu emprego? Casados com o trabalho, sem namorados/as, filhos,
ninguém sai, ninguém tem hobbies, amigos? Não é possível. Não acredito. Então, por que é que tu tens de te empenhar tanto, mais do que todos, o que temes que acontecerá se não o fizeres?
Das duas uma: ou é desculpa para não estares comigo, e nesse
caso teria sido mais sincero dizeres-me que não querias mais nada comigo. Por
muito triste que eu ficasse nunca to levaria a mal. Ninguém manda nos
sentimentos. Há pessoas que preferem viver sós, sem relacionamentos. Tudo bem.
Mas que o façam honestamente, sem enganar terceiros, que tenham o cuidado de só
se envolverem – casualmente, superficialmente, se assim o desejarem – com pessoas
que também não querem mais do que isso.
A outra hipótese é ser uma fuga. Se é verdade que sentes carinho por mim, como dizias, então porque foges? Do que tens medo? O que é que
achas que pode acontecer se estivermos juntos? Tens medo de me desapontar? De
te magoares? Mas, meu querido, é justamente por não tentares que desapontas,
que te magoas... e me magoas a mim também…
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